sexta-feira, 12 de abril de 2013

SOBRE A PRECARIZAÇÃO NOS CMEIS E O SEU FUNCIONAMENTO NO PERÍODO DE FÉRIAS


O POPULISMO QUE PROMOVE O RETROCESSO NA EDUCAÇÃO MUNICIPAL DE GOIÂNIA

            Nós, trabalhadores da Educação do município de Goiânia, estamos estarrecidos com a onda de atitudes autoritárias e projetos populistas adotados pela administração pública municipal, os quais atingem diretamente os trabalhadores desta pasta, além de serem um meio de brincar com a boa-fé da população.
            A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, instituiu a Educação Infantil como a primeira etapa da educação básica. Isso significa que é direito das crianças de 0 a 6 anos frequentar instituições educacionais que realizem um trabalho de formação integral dessas crianças, para que elas adquiram todas as habilidades necessárias, com vistas à  qualidade de vida e ao desenvolvimento de  suas potencialidades, bem como para que sejam  atendidas em suas limitações, de modo que avancem continuamente e tenham uma vida escolar de qualidade.
            Para atender o que solicita a Lei, no município de Goiânia foram instituídos os CMEI’s – Centros Municipais de Educação Infantil, os quais se configuram como o maior avanço da educação municipal  nas últimas décadas. Nessas instituições, até o ano de 2011, o trabalho com as crianças foi realizado por profissionais formados em Pedagogia e Magistério. A partir de 2011, o governo atual decidiu que, para auxiliar o professor, o profissional poderia ser qualquer pessoa com formação de nível médio, o que na prática vem se mostrando um verdadeiro desastre. As pessoas com nível médio que chegam aos CMEI’s atraídas por uma falsa ideia a respeito da facilidade do trabalho acabam por ficarem sem chão, ao perceberem o tamanho da responsabilidade de cuidar e educar crianças de 0 a 6 anos.
            Qualquer leigo reconhece a existência de estudos que comprovam que é nessa faixa etária que formamos os traços principais de nossa personalidade. São nos primeiros anos de vida que construímos a base do que seremos, por isso precisamos de uma formação sólida e múltipla, que se preocupe com todos os aspectos do desenvolvimento: social, psicológico, afetivo, cognitivo, motor...Para tanto, é necessário que haja profissionais solidamente formados e capacitados. Contudo, o que a realidade nos mostra é que as pessoas com formação de nível médio podem até ter boa vontade, mas não têm o conhecimento necessário para desenvolver um trabalho que realmente seja significativo e que promova a formação integral da criança.
            A situação piora muito quando essa pessoa de formação de nível médio atua na condição de contrato especial, pois quem prestou o concurso ao menos teve que estudar algo sobre a proposta da Rede Municipal da Educação; o contrato não! Essa realidade é um desrespeito para com as crianças. Os Direitos das Crianças estão sendo negligenciados pela gestão municipal, que  pensa apenas financeiramente e não no oferecimento de uma educação de qualidade, que é obrigação e dever do Estado, de acordo com a Constituição Brasileira.
            No entanto, esse ainda não é o pior absurdo implantado na educação municipal. Agora, desce do gabinete do prefeito municipal uma ordem que não se coloca para ser discutida e sim cumprida. A ordem impõe que, já nesse ano, dez CMEI’s funcionem nas férias de julho – isso  mesmo, nas férias de julho! Por que as instituições educacionais devem ser responsáveis pelos projetos populistas e assistencialistas do governo? Onde estão as Secretarias de Esporte e Lazer, Secretaria de Cultura e Secretaria de Assistência Social? Por que nas férias esses órgãos não se responsabilizam pelos cuidados com as crianças, promovendo colônias de férias, oficinas de teatro, de brinquedos, ou o que for da sua responsabilidade?Por que colocar mais este peso nas costas dos profissionais da educação?
            Aos jornalistas, pedimos que façam um levantamento nas clínicas de repouso: quantas pessoas estão em tratamento? Quantos são professores ou já foram? Façam um levantamento junto à Secretaria de Educação sobre o número de  funcionários que foram readaptados de função por motivo de doença, considerando que todos nós fazemos uma série de exames para tomar posse e entramos em perfeita saúde na Rede – quantos são esses readaptados? Por que chegaram a essa situação? Façam  um estudo das profissões mais estressantes que existem, as causas desse estresse  e  qual lugar ocupa a profissão de professor. Sei que estes dados existem e são claros para todos. Qualquer pessoa que trabalha num escritório, ou como manicure, gari, vendedor, se passar meia hora numa escola, perceberá o tamanho da nossa responsabilidade, as precárias condições que enfrentamos e o quão duro é nosso trabalho.
            Diante de tudo isso, o governo atual ainda nos impõe ainda mais uma responsabilidade: cuidar das crianças no nosso período de descanso, que merecemos e sobretudo necessitamos para conseguirmos continuar exercendo a profissão por mais 25 ou 30 anos. A situação traz ainda mais um agravante: como garantir a integridade física, psicológica, afetiva, cognitiva de nossas crianças, se nós, profissionais da educação, ficarmos com a nossa integridade física em risco? Como poderemos cuidar das crianças ao longo do ano, se não tivermos momentos para cuidar dos nossos próprios filhos? Como poderemos cuidar, educar e garantir uma boa formação para os filhos de outras pessoas, se os nossos ficarão à própria sorte?!
            Nós, profissionais da educação, não aceitamos que os Centros Municipais de Educação Infantil  tornem-se Colônias de Férias! Somos instituições de Educação, estamos cumprindo nosso trabalho com qualidade. O ensino Infantil de Goiânia é referência no Brasil e no mundo. Não podemos aceitar tamanho retrocesso e desrespeito!

Heliany Wyrta de Oliveira Revignet – Pedagoga, Professora Coordenadora e Profissional da Educação da Rede Municipal de Ensino de Goiânia